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  • Vinicius Brandão

Viramos todos resellers?


A tentação de fazer dinheiro rápido é inevitável. Comprar um par online ou através de uma raffle e, a depender do par, imediatamente abrir a possibilidade de ter lucro de 100%, 200% ou até mais se for algo bem mais exclusivo.

Essa tática quase sempre aconteceu. Eu mesmo fiz algumas vezes para poder comprar ou trocar por aquele tênis mais antigo que também tinha o valor de resell elevado (New Balance e Asics de 2009, 2011, ou quem sabe um heat atual). Entretanto, algo parece ter saído do controle.

Eu sei. Muitos dirão que isso faz parte de qualquer mercado de exclusividade. É verdade também, mas se você lá atrás começou porque gostava de comprar/colecionar tênis e discutir sobre, sabe que tudo se resumir ao ato de resell não é legal.

O que temos visto por aqui nos últimos tempos é um aumento crescente do interesse exclusivo pela revenda e seu lucro fácil.

Vejam, não estou aqui criticando a existência de resellers, até porque isso seria chover no molhado. Há tempos isso fazer parte do “game”, inclusive sendo mais agressivo lá fora. Seria inevitável que também acontecesse aqui, com pessoas se organizando de forma profissional, abrindo lojas, empreendendo e por aí vai. Não tenho absoluto problema com isso, pelo contrário, até porque eu mesmo por vezes acabo por utilizar desse serviço e entendo a existência/importância delas também por aqui.

A minha conversa, portanto, não seria apontar culpado ou apresentar soluções, longe disso, mas tentar refletir sobre o comportamento nosso individualmente.

Ao que parece, para muitos o caminho natural quando se conhece a “cultura sneakerhead” e entende como a engrenagem funciona, tende a também fazer o mesmo, ainda que tenha criticado a mesma postura no passado.

Abrir um IG para (re)venda e já se considerar uma loja, comprar cadastro para raffle online ("quer ganhar uma graninha fácil? Manda inbox!"), fazer pré-venda e por aí vai. A sensação é que não basta fazer o seu próprio cadastro ou junto com algum familiar. É preciso maximizar suas chances (ou lucro) ao maior limite possível. Ter 1 par para eventual revenda já não basta mais.

Pior é quando não se reclama por não ter conseguido aquele lançamento tão desejado, mas sim a falta de chance de se fazer dinheiro fácil. Um exemplo claro é a febre por conta de qualquer modelo Nike em parceria com a Off-White. Assim como no lançamento dos primeiros Yeezy Boost 350, vimos uma reclamação descontrolada sobre a falta de chance de conseguir algum par.

Acusações que beiram a risada tais como a famosa “maracutaia”, #boicote e blá e blá. Para vocês, o meu total desprezo pela pura hipocrisia. Ainda que novas tentativas de mecânicas não tenham funcionado como imaginado (talvez pelo simples fato que a procura é muito superior à demanda, mas que sim, ainda podem ser melhoradas), no fundo, a reclamação é sempre pelo mesma razão: "Não tive a chance de fazer o meu resell!".

Por vezes, ou melhor, quase sempre, também não fui sorteado naqueles que realmente queria. Não chorei, não reclamei ou acusei. Se realmente almejava, economizei, troquei, vendi outros pares, foquei, fui atrás e também paguei o preço de revenda quando achei que deveria. Simples.

Apesar de ser tentador (confesso), nunca tive como objetivo principal. Mais uma vez, nada contra com quem faça, até porque se não for você, será outro (o famoso, “odeie o jogo, não o jogador”), mas quando entrei em contato com esse mundo, o meu interesse principal nunca foi para essa direção. Conhecer outros colecionadores e lojistas, fazer amizade com quem está na frente da comunicação, entrar em contato com as marcas, ir ou participar ativamente de alguma forma dos eventos, ou até mesmo poder escrever sobre esse universo, como faço agora.

No fim, quando tenho a impressão que quase tudo se resume ao dinheiro fácil da revenda, realmente desanima um pouco sobre o que esperar dessa tal comunidade sneakerhead. Quando nos deparamos com uma cobrança para um simples size swap, ou pior, a célebre pergunta “quanto vai ser o resell de tal par?” você tende a perceber que amizades, senso colaborativo e interesse puro sobre tênis neste meio são cada vez mais raros.

Talvez aquele tempo e sentimento genuíno de apenas compartilhar nossas coleções, conversar, trollar (por que não?) e debater sobre esse universo não volte nunca mais. Não há sentimento de culpa ou reclamação. Apenas a constatação da realidade atual.

Todavia, independente da direção que a coisa toda está tomando, penso que ainda continuarei apaixonado por este universo, gostando da minha coleção, ler, pesquisar e comprar novos pares e, principalmente, conversar com quem divide a mesma loucura!

E aí, o que esperar da “cena” no futuro? Viramos apenas uma cultura de revenda?


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